terça-feira, 31 de maio de 2011

Das heranças...

Receber uma herança pode ser uma experiência terrível.

A leitura de um testamento ou a realização de partilhas entre irmãos pode significar desavenças, conflitos e descobertas...descobre-se a verdadeira essência do bicho homem.

E na minha família,aquando a leitura do testamento do meu avô materno (homem que enriqueceu pelo contrabando de bacalhau em tempo de guerra e que após isso consegui gastar todo o dinheiro em vinho e putas, e ainda utilizava notas como papel higiénico) em 1989, instalou-se a verdadeira confusão pela disputa de uma casa apalaçada e algumas terras.

A casa ficou para a minha mãe, irmã mais nova que ali sempre viveu e que cuidou do meu avô até à sua morte. As terras seriam a dividir pelos 4 irmãos. Não aceitaram, mas como foi redigido testamento em vida que remédio teriam, embora a minha mãe tivesse de dar tornas aos irmãos pelo valor patrimonial da casa ser substancialmente maior. Assim foi.

A minha mãe, em 1989 era uma mulher de 35 anos com duas filhas pequenas e um marido de 35 anos reformado por invalidez...e ainda tinha de dar tornas aos irmãos...no valor de 5000 contos (uma fortuna). Mas deu, com mais ou menos dificuldade, com muito trabalho e sacrifício da parte dela lá conseguiu pagar aos irmãos, que lhe viraram as costas e apenas queriam era o dinheiro.

Os anos passaram e os atritos familiares lá se desvaneceram...

A minha mãe vendeu a casa em 1998 porque na altura não precisávamos de uma casa apalaçada que se ia degradando cada vez mais. Precisávamos sim de dinheiro, liquidez...eu estava a entrar para o secundário e a minha irmã para o ciclo. E após a venda da casa os irmãos voltaram a aproximar-se. Cada um dos outros com o seu terreno e a minha mãe...sem a casa, mas com dinheiro para conseguir sustentar a família.

Agora com o falecimento do meu avô paterno, houve necessidade de regularizar as partilhas pois a minha avó é herdeira. E a história repete-se...

Este meu avô era oriundo de famílias ricas, com terrenos e outros bens. E junto com os terrenos da família da minha avó conseguiram ter uma vida algo desafogada financeiramente, ainda que ensombrada pelo flagelo do álcool. O meu avô foi durante muito tempo produtor de vinho, e claro está...

Também foi produtor de azeite e fornecedor de pêras, maças, e pêssegos para a cooperativa. Isto para além de ter sempre batatas, feijão, etc...Foram sempre quase auto-suficientes no que produziam. E isto gerava dinheiro, muito dinheiro, que se gastava...em álcool e putas (tal como o avô materno).

Mas as terras lá foram ficando, bem como a casa onde ainda vive a minha avó.

Agora houve então a necessidade das partilhas, e como a irmã mais velha do meu pai já tinha recebido quando casou um terreno onde veio a construir a casa dela sempre disse que já não queria mais nada. Que o restante património fosse dividido pelos irmãos.

Assim existem 2 grandes terrenos e a casa que se divide em 2 partes, a casa propriamente dita e uns anexos (onde o meu pai construiu uma pequena oficina de bricolage para estar distraído),uma adega e outro anexo com um poço.

E em conversas ao longo dos anos sempre ficou definido que a casa e um dos terrenos ficava com  a irmã do meio e o anexo da casa e o outro terreno ficaria para o meu pai. E como legalmente a casa ainda não pode ser herdada porque a minha avó é viva e para simplificar o processo na conservatória a minha avó resolveu passar já para o nome do meu pai o terreno que lhe pertence e o anexo da casa, uma vez que não é habitação e não é essencial à sobrevivencia dela. A casa e o outro terreno ficariam legalmente como forma de assegurar a sobrevivencia da minha avó e aquando do falecimento dela passaria-se então para o nome da irmã do meio.

Mas a irmã do meio, tia que eu adoro do coração, acha que está a sair prejudicada. Que já todos os irmãos têm a sua parte e ela mais uma vez está a ser discriminada...como alega que foi toda a vida...

Enfim..a minha avó está de rastos...ficou mais perturbada com esta situação do que com a morte do meu avô..Ela não merecia isto...

E em conversa franca com a minha irmã lá acordamos que jamais nos zangaríamos pelos motivos parvos de heranças e partilhas.

Mais uma vez se prova que o dinheiro não é sinónimo de felicidade..

5 comentários:

Joana disse...

Por isso é que eu sou apologista das partilhas serem feitas antes da morte das pessoas em questão. E depois o pior é que, por as pessoas serem casadas ou terem conjugues, as opiniões duplicam e as pessoas tem mais em consideração a opinião do marido/mulher do que a da familia :s Os meus avós maternos construiram um predio enorme e os meus pais, quando se casaram, ficaram a viver num apartamento (era na altura uma garagem) desse predio. Acontece que estamos a anos para fazer obras na casa mas os meus pais têm medo que, ao fazer as obras, a casa suba de valor e os meus tios queiram ficar com aquela casa. Nós damo-nos muito bem, mas nunca se sabe :/

Dulce disse...

Bem sei o que isso é... :(

Basicamente não tenho família paterna, pois os meus avós também não foram lá muito equilibrados a fazer as partilhas e deu asneira... os 3 irmãos não se falam há anos e, em consequência, cresci a saber que «aquele ali é meu primo» mas não posso falar com ele, não «me diz nada»...

Do lado da minha mãe as coisas foram bem mais simples - a minha avó não tinha nada (senão uma humilde casa num fim do mundo que não interessa a ninguém) e claro está, ninguém se zangou.

Penso sempre que quando chegar a vez de dividir as coisas com as minhas 2 irmãs... espero que a sensatez impere! Tudo o que não quero é «perder» as minhas irmãs, que são bem mais importantes que quaisquer bens que os meus pais possam deixar :)

Inês disse...

Tenho tanta pena em dizer que me vou encontrar em situação mais ou menos semelhante. A diferença é que a casa onde eu vivo não é valiosa, mas que as partilhas envolvendo irmãos e um deles com mau feitio até me dá dores de cabeça...e já não tenho avós.
O dinheiro não traz felicidade a ninguém,mas infelizmente muitos consideram-no importante para manterem uma vida de aparência.
Bjs

Margarida Lozano disse...

Costumo dizer que o dinheiro acaba com os problemas materiais, mas ganha outros... no âmbito sentimental.

beijo

Lux disse...

Infelizmente, quando há bens ou dinheiro nas famílias, acaba sempre tudo de costas voltadas...
Já vi isso over and over again...

xoxo
Lux