Após dias bem complicadinhos...talvez a normalidade regresse.
Quero acreditar que sim.
A minha mãe está optima, apesar de muitas complicações na operação, apesar de ter voltado a ser internada 2 dias depois. Foi um enorme susto...ninguém morre de gases...sim, gases...foi disganóstico...porque o intestino está a encontrar nova posição...porque ainda não funciona a 100%. E vai daí...2 dias depois de ter saido do hospital começou a delirar, com cólicas...e barulhos na cabeça que ela insistia que eu devia ouvir também...a pressão dos gases fazia dela um ser completamente descontrolado.
O olhar vazio até ao infinito, o ritmo cardiaco bastante acelerado, o corpo gelado...temi o pior...
Testei ao máximo os pneus do carro do meu pai (que não me deixaram ficar mal a 200km/h atrás do Inem) e depois de uma noite não dormida nas urgências o diagnóstico às 11 da manhã foi...gases...que felizmente passaram e não causaram danos maiores.
Voltei para minha casa. São sentimentos estranhos...a casa dos pais será sempre a nossa casa, onde nos sentimos protegidos, onde os nossos problemas desaparecem, onde estamos seguros de nós próprios, onde somos sempre crianças, onde nos vem à memórias episódios das nossa infância/adolescencia que julgavamos para sempre perdidos na nossa memória.
Adoro a minha casa, amo o meu marido, mas esta semana em casa dos meus pais...fez-me balançar e ter cada vez mais a certeza que é aquele o meu lugar, proximo da minha família, proximo das minhas raizes.
Claro que o meu marido é muito mais ponderado que eu e obvio que não podemos deixar tudo o que temos para traz assim de um dia para o outro...empregos muito estáveis nos dias de hoje são uma raridade ainda para mais nos jovens adultos como nós.Mas quero viver na ilusão que vamos conseguir mudar de cidade com as mesmas regalias ou melhores que temos actualmente, nem que seja daqui a 10 anos! Tenho conseguido alcançar tudo aquilo a que me proponho. Porque razão haveria de ser diferente agora...?
Enquanto lá estive voltei a sentir o sabor da infância, o aconchego da famíla...coisa que infelizmente o meu marido não conhece...tenho pena por ele...foi um menino rico, mimado, com todos os bens materiais que se podem dar...teve este mundo e o outro em termos materiais. Mas faltou-lhe o amor incondicional da família...a atenção dos pais, a transmissão de alguns valores importantes...que agora ele sente falta e esforça-se por receber...não da familia dele mas da minha...
Li a agenda do meu avô. Frases simples com letra arcaica...:
Hoje choveu.
Estava muito frio.
Semeei as alfaces para a Vera.
Comprei um saco de milho para as galinhas.
A Vera veio cá.
A Vanda comprou o carro.
Fomos a Fátima.
Dei um saco de batatas à Sónia.
Nasceu o João.
...
...
...
A vida dele resumida de forma tão simples, dia após dia...
A ultima entrada da agenda:
17/01/2011
Fui comprar o casaco. Custou 59€.
As saudade do meu avô corroem-me a alma....lamento ter vindo para longe, não ter passado mais tempo com ele nos ultimos 11 anos...A vida é mesmo assim...mas cada vez mais tenho a certeza que não quero viver/morrer longe da minha familia.
4 comentários:
Querida Vera, um abraço.
Não há nada como voltar às raízes e à gente que nos viu crescer para nos sentirmos em casa.
Ainda hoje, depois de 8 anos a morar na cidade, é na minha praia que me sinto em casa!
Ainda bem que tudo está bem.
Eu compreendo-te.
Sê bem vinda.
Ah...ADOREI a agenda do teu avô. Parabéns.
Bj
Um beijinho de muita força!
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